quarta-feira, 26 de junho de 2013

Abaixo a Gordofobia!

Gordo é gordo. Não é forte, gordinho, fofinho, grande, cheinho...
Fonte: Site Fator e Estilo
Ser gordo em tempos de anorexia é muito difícil. Algumas meninas encarceram-se em um mundo particular, onde elas estão protegidas de todo tipo de ataque ou discriminação. Trancam-se em uma vida cinza, vestem roupas feias, têm vergonha de se maquiar, usar bijuterias, comprar um sapato bacana ou uma bolsa bonita. Ouvi muitas dizerem: “Pra quê? Ninguém olha pra mim mesmo”. Ou “Por que vou comprar um lingerie bonito? Ninguém vai ver!” “Ah, não vou usar esse colar. Já sou enorme, vou chamar muito a atenção”. Ora, eu compro pra mim, me visto pra mim, me maquio pra mim... Adoro bijuterias grandes, extravagantes como eu! Sou a gorda mais perua que conheço!

Ao longo dos meus 47 anos, a maioria deles com sobrepeso, eu ouvi todo tipo de histórias. Desde as mais tristes e cruéis às mais alegres e, sem algum trocadilho, leves. Definitivamente quem precisa perder peso é o preconceito e a ignorância.

O que mais ouvi, e ainda ouço, foi: “Você é tão linda, precisa emagrecer, não pela estética, mas pela sua saúde”. Será mesmo? Saúde? Não sei, meu último check-up declarou que minhas taxas estão todas normais. Sem triglicérides, colesterol ou glicemia alta.

Até que ponto a minha obesidade incomoda o outro? Eu sinto que as pessoas ficam embaraçadas ao me verem de maiô, por exemplo. Eu não me incomodo, mas elas se incomodam... Eu nem me lembro das minhas estrias e celulites. Elas só incomodam aos outros.

Leo Jaime escreveu um texto brilhante intitulado "Gordo é o novo preto" que fala sobre essa falsa preocupação com o gordo. Conforme ele diz em seu post: “O título deste artigo se refere a um movimento americano, “Fat is the new black”. Repare que a tradução não é “o novo negro” mas sim “o novo preto”. É uma expressão do mundo da moda: o novo preto é aquilo que parece ser a óbvia boa escolha; o que não tem erro: o pretinho básico. Ainda que seja óbvia a sugestão de que gordos são, para muitos, “the nigger of the world”, o que o tal manifesto combate ferozmente”.

O mundo não foi feito para os gordos. As cadeiras estão cada vez menores e os restaurantes insistem em colocar aquelas morféticas cadeiras de plástico. Quando não são de plástico são com braço. Parece que fazem de propósito, para os maiores (não só em peso, mas também em tamanho) fiquem alertas para seu lugar no mundo: Fora do alcance dos olhos dos que estão up to date!

O avião é um pesadelo. Além de ter que pedir extensor do cinto de segurança, tenho que torcer pro vôo não estar lotado e eu poder pegar uma cadeira livre do meu lado, já que não caibo com o braço da poltrona abaixado e minha bunda invade a cadeira vizinha. O cinto de segurança da maioria dos carros também não me serve e se eu não coloco sou multada! Como fazer? Ficar em casa presa?

Andar de ônibus? Não dá! Eu não passo naquela roleta minúscula e a maioria dos motoristas não tem paciência pra deixar entrar pela porta traseira, o que considero um tremendo constrangimento. Também eu não caberia no assento. Nos metrôs de SP eu transito com tranquilidade. Tanto nas roletas quanto nos assentos. Por que os ônibus também não podem oferecer as mesmas condições??? PEC do Gordo Já!

Comer em público parece um calvário, afinal, se vêem uma gorda comendo logo dizem: “Tá vendo, por isso é gorda desse jeito”. Claro que se a magra come também dizem que é magra de ruindade, mas a incidência é bem menor. As pessoas gostam mesmo é de sentar em cima do próprio rabo e falar do rabo do outro, como dizia minha mãe. É muito mais fácil criticar o outro e não reparar em suas próprias deficiências.


Teatros e cinemas têm cadeiras para obesos. São poucas, mas tem. Aqui em Santos o teatro Municipal e o teatro Coliseu têm. São confortáveis e eu caibo direitinho. E olha que sou uma gorda G3! Os cinemas da rede Cinemark também têm.

Em outra postagem falei de academias em Santos, porque além de gorda eu possuo uma dificuldade de locomoção por conta de um acidente. A escadinha da piscina é um terror, mas existem academias com rampa ou elevador na piscina.

Aliás, esta dificuldade de locomoção e minha obesidade me renderam outro post, onde contei que há dois anos fui barrada no Programa Altas Horas por estar usando uma bengala.

Segundo a produção eu não poderia sentar na primeira fileira, onde ficam só os jovens e bonitos, e se eu subisse aquelas escadas da arquibancada eu colocaria a segurança de todos em risco caso ocorresse algum acidente. Fui acusada de estar provocando um tumulto na entrada e pediram, gentilmente, que eu me afastasse. Fui colocada em uma sala “VIP”, onde passariam todos os artistas, conforme haviam me dito. Aquilo não era uma sala! Era um local que parecia uma garagem abandonada, uma espécie de depósito, uma doca cheia de fios, lixo e caixas, com um monitor e 4 cadeiras desconfortáveis. De fato os artistas passavam por lá, porque era a passagem dos camarins pro estúdio (passagem mesmo, saíam de uma porta e imediatamente passavam por outra, colocavam apenas um pé na tal salinha).

Outra vez, antes de sofrer o tal acidente que mencionei, eu fui a uma entrevista de emprego e fui barrada. Sou professora e a diretora que me entrevistava perguntou se eu conseguia ficar em pé pra dar aula, por causa do meu peso. Nem vou dizer aqui tudo que respondi àquela infeliz, mas coloquei-a em seu lugar...

Há dois anos eu fui a um lançamento outono-inverno de pijamas e camisolas tamanho grande aqui em Santos. Foi maravilhoso. A marca, Anna Joana, faz peças maravilhosas, divertidas, joviais.

Eu sou absolutamente suspeita pra falar algo, pois eu tenho todas as camisolas e pijamas da coleção passada. Tenho por hábito trocar todas as noites, pois, como trabalho em casa, fico durante o dia muito confortável com meus pijamas que passam, tranquilamente, por um conjunto de short e camiseta.




Conheci meninas lindas, gordas com carinha saudável e olhinhos brilhantes, bem maquiadas, arrumadas, transadíssimas! Todas animadas com uma perspectiva de vida após a obesidade...


Um time de mulheres lindas como as da foto acima. Alegres e bem resolvidas, Adriana, Alexandra Zagur, Karina Wiliams (Anna Joana), Flávia Saad, Ludmilla Rossi (do Juicy Santos), Nathália Ilovatte, Andrea Boschim e Júlia Pires.

As modelos Plus Size Andrea Boschim  e Júlia Pires me deram a honra de dividir a mesa. Além de lindas são alegres, felizes e realizadas. Suas fotos espalhadas por toda a mídia não me deixam mentir!

A modelo Plus Size Tara Lynn mostrou suas curvas generosas em um ensaio pra lá de sensual para uma edição da revista Elle francesa. Com muito charme e estilo, Tara abrilhanta, com seu manequim 48, mais de 20 páginas do editorial da revista de moda, usando grifes como Tommy Hilfiger, Hermès e Channel. Foto: Revista Elle


Há ainda agências que têm modelos Plus Size, como é o caso da WorldModel que iniciou suas atividades no Brasil em 2008, trazendo para o País sua bagagem no conceito de desfiles coreografados e o primeiro casting de modelos plus size. Site Agência: www.worldmodel.com.br 


Há algum tempo houve, em Piracicaba, um evento chamado “Beleza não tem tamanho e não tem idade”. O evento fez a diferença para as mulheres com mais peso e mais idade: a modelo Raquel Correa, de 23 anos, gritou ao mundo que tem orgulho de suas formas! Já fez todo tipo de loucura, tomou remédios, mas hoje está tranquila amando muito e sendo amada.
Apesar do estilista inglês Julien MacDonald, jurado do programa Britan’s Next Top Model, ter revelado no ano passado que as modelos Plus Size são uma piada, as gordas estão conquistando, literalmente, seu lugar ao sol. Nós temos tamanho, precisamos de voz pra gritar ao mundo que nós não somos as “anormais”, somos apenas “diferentes” dos padrões preestabelecidos pela mídia.
Nós gordos temos que acabar com o preconceito antes de todos pra que os outros também não o tenham em relação a nós...

Afinal, não é feio ser gordo. Eu, por exemplo, me amo e me acho linda!

Cuidar sempre da saúde é importante e não estou aqui para fazer uma apologia a favor da obesidade. Só não gosto como as pessoas encaram o gordo como um "sem vergonha" que não emagrece porque não quer emagrecer. Isso não é verdade. Há anos que a obesidade já foi reconhecida pela medicina como uma doença e enquanto as pessoas se cuidam, devem ser tratadas com o devido respeito.
É por isso que eu luto!

O preconceito é a pior droga para a obesidade.

É isso aí!